Autossabotagem. Quem nunca?
- Célia Chueire
- 24 de abr. de 2022
- 3 min de leitura

Platão foi um filósofo grego, nascido em 428 AC, discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles. A Civilização Ocidental foi e é fortemente influenciada pela filosofia de Arístocles, seu nome verdadeiro, uma vez que Platão, em grego, seria o significado do seu físico privilegiado. Platão era atleta de luta. É dele a frase na obra Protágoras: “Há uma vitória e uma derrota – a maior e a melhor das vitórias, a mais baixa e a pior das derrotas – que cada homem conquista ou sofre não pelas mãos dos outros, mas pelas próprias mãos”. Numa linguagem mais atual seria como dizer que não é um problema que nos prende, nós é que nos prendemos a ele.
Esse é o caminho para se entender porque muitos de nós somos repetitivos nas maneiras de impedirmos a nós mesmos de obter os resultados que, cognitivamente, até os desejamos, mas na hora certa, arranjamos um jeito de impedir. É o que chamamos de ciclo da autossabotagem, a sabotagem para consigo mesmo. Você não sabe porque faz o que faz, mas sempre o faz. Há quem chame a isso de compulsão pela repetição. As causas? É preciso investigar uma vez que há repetições que tem o poder de destruir vidas e relacionamentos, outras, o emprego, a amizade, a liderança, o desempenho. Pode ser aquela vaga na empresa pela qual você anseia, e na hora da entrevista, você arranja um jeito de sabotar, de aniquilar a possibilidade de ser aprovado, ou com palavras, gestos ou ações.
Alguns, mesmo empregados, dão um jeito de provar que não são tão bons como dizem. Pense no relacionamento afetivo, depois de tantos que não deram certo, e então você diz para si mesmo: Acho que agora vai! Mas se alguém lhe perguntar se vai dar casamento, você sente um calafrio, não o confessa para ninguém, e de repente, (aliás, nunca é de repente), acha um jeito de sabotar mais esse. E as desculpas que dá são até inteligentes, mas, no fundo você sabe (ou não) que são meros explosivos da sua artimanha de autossabotagem. Agora imagine quantas promoções são sabotadas, casamentos, lideranças, provas do dia seguinte sabotadas pelas noites em claro na balada ou na bebida.
E onde está a causa disso tudo? É certo que só haverá mudança se houver conhecimento. Enquanto seu inconsciente não trouxer ao consciente a razão pela qual você se autodestrói ou se impede de ter sucesso, nada de fato acontecerá. Imagine que você tem tantas habilidades e cursos realizados na sua trajetória profissional que tudo o indica positivamente para assumir o posto de gerente de uma empresa. Mas lá no fundo, você sabe que mais tarde você fará questão de provar que é inadequado para assumir responsabilidades de tal nível. Chegará atrasado para reuniões, ignorará problemas da equipe, será omisso em situações que exigem postura assertiva do gerente, e por aí vai. Segredos provocam sintomas. Muitos das nossas ações e reações são resultados de causas obscuras ou negadas, a maioria da infância, que nos faz viver explicando o porquê disso ou daquilo. Parece que Platão estava mesmo certo. Nós é que nos apegamos aos problemas, e não o contrário. Perceba então, aspectos da vida pessoal e profissional que não são como deveriam ser, e são repetivivos.
Mesmo que você decida a lidar com métodos e práticas para reduzir essa compulsão à sabotagem, será como varrer para debaixo do tapete o problema. A solução está no passado, especialmente se esse ciclo de repetições já se tornou maléfico, destrutivo para você e para quem o cerca. Alguns sintomas como tentar ser autossuficiente o tempo todo, o medo de errar, a necessidade de se comparar aos outros ou a procrastinação despertam a atenção. Há insegurança e medo no ar. Conheci uma pessoa que nos idos tempos de atleta de corrida precisava vomitar quando ouvia o microfone anunciar no estádio que era a última chamada para a sua prova. era o gatilho suficiente para que ele fosse para alguma moita vomitar. Depois voltava pronto para a pista. Às vezes até ganhava a competição. Mas muita da sua energia fora desperdiçada naqueles minutos usados para aliviar a tensão, e certamente perdia segundos preciosos ou amargava uma derrota.
Platão talvez não vomitasse antes das suas provas de luta, mas certamente deve ter compreendido que sua maior vitória ou maior derrota era pelas suas próprias mãos.
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