Tempo, o bem mais precioso
- Célia Chueire
- 28 de mar. de 2022
- 4 min de leitura

Tic-tac faz o ponteiro do relógio, dois segundos se passaram, duas barrinhas percorridas. Toc-toc, agora um som que se confunde com o do relógio.
- Quem é?
- Sou eu?
- Eu, quem?
- Sou o Sr. tempo!
- E o que você quer Sr. tempo?
- Eu quero lhe fazer uma pergunta.
- E qual é?
- Você já pensou em mim hoje?
Brincadeiras à parte, seja com tic-tac ou toc-toc, o fato é que o tempo passa, passa, ...e continua passando. Se você chegou até aqui, um tempo, ainda que pequeno, também já se foi. E assim o tempo continua tocando sua jornada sem fim. Mas e quanto a você? Já parou para considerar como anda sua administração do tempo?
Às vezes estamos tão concentrados em nossos afazeres, que sequer paramos para pensar nesse elemento da vida humana, sobre o qual somos useiros e vezeiros em dizer que está sempre nos faltando. São lamentos do tipo: “Não tenho tempo para isso, não tenho tempo para aquilo”. Quantas vezes se escuta, quantas vezes se diz.
E como você tem investido seu tempo?
A resposta pode ser que sua forma de investir bem o tempo que tem seja no seu desenvolvimento pessoal, desde aprender um novo idioma ou fazer uma viagem a passeio ou a trabalho. Poderia ser também dedicar mais atenção à família, estudar temas sobre os quais tem mais interesse ou uma boa leitura. Um autor disse que livro bom não deve ser lido, deve ser estudado.
Mas para que tudo isso se realize é necessário tempo, ou seja, os mesmos 1440 minutos que todo mundo tem em qualquer lugar ou situação. Uma vez que é a mesma quantidade para todos, então talvez devamos alargar nossa visão, e perceber que não se fala de gestão do tempo sem falar da gestão de si mesmo.
Nesse particular a língua grega abre outras possibilidades de compreensão do tempo que temos, coisa que em português é mais limitado. Em grego , Chronos, é o tempo cronológico, limitado às horas e minutos, é o cumprimento de rotinas, cronogramas, tarefas anotadas na agenda, horários definidos, atendimentos e reuniões. Em geral entendemos isso como a parte burocrática e exaustiva. Mas também é aqui que temos uma forte ideia de solucionar e conquistar resultados.
Mas quando os gregos dizem Kayros, falam de um tempo além do relógio, que não pode ser controlado, é o tempo oportuno, momento adequado, pode ser o acaso, ou seja, tudo aquilo que se relaciona com o inesperado. Kayros alude mais à alegria de perceber que o momento é oportuno, há um sentimento de que o relógio não é tão importante assim, é um break no chronos, ou como dizem os suecos, um fika, aquela pausa no ritmo alucinante para saborear a vida. O fika traz um sentimento de leveza, com menos regras, livre de pressão, um sentido interior de motivação para as nossas atividades diárias contribuindo para um dia a dia mais ameno e feliz. Os suecos fazem muito isso no ambiente de trabalho.
O tempo nos permite ser operários de nossa própria vida, como sugerido pelo filósofo francês do início do século XX Louis Lavelle, autor do célebre o Erro de Narciso. Aliás, uma das suas reflexões nesta obra é que enxergar além de si mesmo é fundamental para se ir mais longe, e não cair no mesmo erro do ser mitológio grego que acabou se afogando na sua imagem no lago. E não é que muitos de nós nos afogamos nas nossas empreitadas porque não vemos outra coisa senão o que somos e o que fazemos dentro do chronos? O tempo será sempre o tempo, mas é implacável com qualquer um e pedirá conta da qualidade e da eficácia com que fizemos a gestão de nós mesmos, para vivermos o chronos e o kayros com sabedoria.
Por isso é importante estarmos atentos a esses dois entendimentos de tempo na visão grega, e em como podemos vive-los da melhor forma. Como já dizia o sábio Rei Salomão: Há tempo para trabalhar, tempo de descansar, tempo de falar e tempo de calar, tempo de plantar e tempo de colher.
Tempo nos sugere mudança, como no ditado: águas passadas não movem moinhos. E este princípio nos sugere uma retomada à genuína importância em se dar atenção ao tempo, às oportunidades que nos aparecem que são tão especiais e ímpares diante de sua escassez, afinal o tempo que já foi não volta.
É certo que existem muitas opções e mudanças acontecendo ao longo do dia, é fundamental saber focar no que é importante. Há muitas formas de dispersão e de desatenção que fazem com que não dediquemos a atenção devida a questão do tempo. Sabe aquela distraída, o tal minutinho, quando se pôs o leite para ferver? Pois é, foi só uma olhadinha para o lado ou para o celular, e aí vem a mão-de-obra com leite derramado.
Assuntos comezinhos e corriqueiros, especialmente na culinária, mostram o quanto a gestão do tempo ou de si mesmo é necessária. Seja para fazer um bolo ou pão, há que se esperar a massa crescer, ir ao forno, novamente aguardar o tempo planejado para que o resultado seja bom. Tudo a seu tempo, mas com foco no que for importante naquele momento.
Por isso, esteja presente, disposto e atento ao tempo, e por conseguinte, às oportunidades. Seja quando você estiver montando um cronograma com as suas atividades do dia, para que ele seja bem aproveitado. Seja quando você se adapta quando ocorre uma reunião ser adiada, ao aproveitar para organizar sua mesa. Se a escala do avião for longa, pegue um bom livro. E assim por diante. Procure ter este cuidado e atenção de se fazer bom uso do tempo. O saudoso ator Mario Lago e compositor da célebre marchinha Ai que saudades da Amélia tinha uma frase pitoresca: Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra.
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